Arcanos Maiores

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Tarot de Marselha

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

INTUIÇÃO




Tratar o assunto intuição, uma das funções da mente estudadas pela psicanálise, tentar uma versão ou versões sobre o tema seria repetir como ave palradora o que o mestre maior, Carl Jung soube tão bem expressar na obra "Fundamentos de Psicologia Analítica"  as "Tavistock Lectores" como são chamadas as conferências proferidas em 1935 pelo grande mestre em Londres. O texto trata-se de um fragmento da obra dirigida a um público de psicanalistas, mas que pela sua clareza pode hoje ser compreendida pelo grande público sem maiores problemas de entendimento.

Seguem suas palavras sobre a questão:

"A última função definida (na obra), a intuição, parece ser bastante misteriosa, e vocês sabem que sou muito 'mistico', como se diz por aí. Bem, essa então é uma das minhas 'quedas' pelo místico. A intuição é a função pela qual se antevê o que se passa pelas esquinas, coisa que habitualmente não é possível. Entretanto encontramos pessoas que fazem isso e acabamos acreditando nelas. É uma função que normalmente fica inativa se vivemos trancados entre quatro paredes, numa vidinha de rotina. Mas se trabalharmos na Bolsa de Valores ou na África Central, então esses 'palpites' e 'impressões' serão as mais eficazes armas de trabalho. É impossível prever, por exemplo, se, ao passar por um arbusto, toparemos com um leão ou um tigre - mas podemos ter uma 'impressão' e isso é o que, no fim das contas, pode salvar a pele. Através desse exemplo, se vê que as pessoas normalmente expostas a condições naturais tem que se valer constantemente da intuição, assim com aqueles que se arriscam num campo desconhecido e os que são pioneiros em qualquer empreendimento. Inventores bem como juízes são auxilados por ela. Sempre que se tiver que lidar com condições para as quais não haverá valores preestabelecidos ou conceitos já firmados, essa função será o único guia.



Tentei descrever tudo da melhor forma possível, mas pode ser que as coisas não tenham ficado tão claras. O que quero dizer é que a intuição é um tipo de percepção que não passa exatamente pelos sentidos; registra-se ao nível do inconsciente, e é onde abandono toda a tentativa de explicação dizendo-lhes: 'Não sei como isso se processa' Não sei o que se passa quando um homem se inteira de fatos como ele, em absoluto, não tem meios de conhecer. Não consigo dizer como essas coisas acontecem, entretanto a realidade aí está, e tais fenômenos são comprovados. Somos premunitórios, comunicações telepáticas, etc., são propriedades da intuição. Continuamente, venho presenciando esses fatos, e estou convencido da sua existência. Entre os primitivos, eles ocorrem com frequência, e se prestarmos a atenção, registraremos em todo o lugar percepções que, de certa forma, trabalham através de dados subliminares, como percepções sensoriais tão sutis que escapam à nossa consciência. Ás vezes, por exemplo, na criptomnésia (Nota da Tradução: Processo parapsicológico que ativa, na consciência, fatos esquecidos, depositados em camadas profundas do inconsciente), algo irrompe na consciência. Captamos uma palavra que lhe provoca determinada sugestão mas, permanecendo inconsciente até o momento de sua irrupção; eis por que ela se apresenta como se tivesse caído do céu. Os alemães denominam Einfall a esse fenômeno: qualquer coisa que despenca do alto sobre nossa cabeça. Eventualmente o seu afloramento adquire características de revelação. Mas, na realidade, a intuição é um fator dos mais naturais, dos mais normais e necessários, pois nos coloca em contato com o que não podemos perceber, pensar ou sentir, devido a uma falta de uma manifestação concreta. Vejamos: o passado já não existe e a realidade do futuro não é tão manifesta quanto o possamos imaginar; aí está por que devemos agradecer aos deuses pela existência de uma função que esclarece um pouco sobre coisas que se escondem por trás das esquinas. Médicos, frequentemente surpreendidos por situações imprevistas e sem antecedentes, tem que contar com o auxilio dessa função cheia de mistérios, sobre a qual repousa um grande número de diagnoses perfeitas". (Fundamentos de Psicologia Analítica - As Conferências de Tavistock - C.G. Jung - Ed. Vozes - 1972)